As abelhas estão em extinção?
As abelhas atuam na manutenção dos ecossistemas. A grande maioria de espécies de plantas no planeta dependem de um intermediário para polinisarem e se reproduzirem, principalmente das abelhas, mais eficientes polinizadoras, por se alimentarem exclusivamente de néctar e pólen.
90% dos principais cultivos agícolas são polinisados pelas abelhas., aumentando a produção flores polinizadas, gerandomais sementes, melhor formato, sabor, durabilidade e valor nutritivo. Quase 50% das culturas têm dependência essencial ou grande de polinizadores, os benefícios das abelhas para o agronegócio não muito representativos.
A redução de abelhas polinizadoras nos mais variados ecossistemas tornou-se uma preocupação entre apicultores, técnicos e cientistas. As abelhas polinizadoras realizam um trabalho fundamental na reprodução de espécies vegetais nativas e no aumento da produtividade de plantas cultivadas. Pesquisas multidisciplinares que buscam entender as causas do desaparecimento de abelhas vêm ganhando força ao redor do mundo nos últimos anos. Isso se deve principalmente aos recentes declínios de colônias domesticadas em diversos países e também pelo aumento do número de abelhas nativas na lista de espécies ameaçadas de extinção.
Por serem organismos sensíveis, elas sofrem com agricultura intensiva, defensivos agrícolas, poluição, introdução de espécies invasoras e alterações climáticas.
Em 2006 aconteceu uma diminuições repentina no número de colmeias, principalmente nos EUA e países da Europa, mas a abelha Apis mellifera não está em extinção. Muito pelo contrário, teve um aumento de 45% em todo mundo, decorrente das práticas de manejo utilizadas pelo ser humano.
No entanto, há muitas evidências de que espécies de abelhas silvestres estão em declínio, o que significa que algumas espécies não são mais encontradas em determinados locais e outras estão menos abundantes na natureza, comparado com estudos de levantamento no passado.
No início de 2020, um estudo com espécies de mamangavas-de-chão (gênero Bombus) presentes na Europa e América do Norte concluiu que em regiões que ficaram mais quentes ou sofreram mudanças extremas de temperatura com o passar dos anos, as abelhas estavam em menor número.
No Brasil
Grandes extensões de áreas contínuas de florestas brasileiras têm sido convertidas, sob taxas alarmantes, em pequenos fragmentos de habitats incorporados a ambientes alterados pelos humanos, como áreas urbanas, de cultivos agrícolas e de pastagens. Tais alterações afetam serviços ecossistêmicos vitais, como a ciclagem de nutrientes, a qualidade dos corpos d’água, a formação de solos, a decomposição de matéria orgânica, o controle biológico de pragas e a polinização.
As abelhas sem ferrão, possuem um papel importante como agente polinizador, a destruição dos habitats pode resultar na perda da diversidade nas comunidades dessas abelhas nativas e na ruptura das relações de interação entre elas e as plantas, impactando a manutenção e conservação de comunidades de plantas em sistemas naturais tropicais.
Entre 2015 e 2017, as buscas por ninhos de abelhas sem ferrão em árvores e a instalação de ninhos-armadilha foram conduzidas no Corredor Ecológico Cantareira-Mantiqueira, pertencente à porção sudeste da Mata Atlântica. Esse é um bioma ameaçado pela contínua fragmentação e perda de áreas, com a maioria dos remanescentes menores que 50 hectares. Em dez áreas, foram amostrados 143 ninhos pertencentes a 18 espécies. Os resultados das análises estatísticas mostraram que a diversidade de espécies de abelhas sem ferrão apresentou uma relação positiva com a cobertura florestal e com a heterogeneidade de uso de solo na escala mais ampla da paisagem (5km). Isso significa que essas abelhas “responderam” aos efeitos muito mais amplos do ambiente em que se encontram (5km), do que apenas ao contexto local onde estão localizados seus ninhos e suas fontes de alimento. Também, áreas com mais de 40% de florestas de Mata Atlântica favorecem a diversidade de espécies de abelhas sem ferrão.
Como salvar as abelhas?
Plantar um jardim de flores ou a criação de abelhas sem-ferrão em meio urbano, ajudam na conservação das abelhas.
A Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos destacou dez diretrizes para auxiliar os governantes.
- Aprimorar os padrões regulatórios de pesticidas.
- Promover o manejo integrado de pragas
- Incluir efeitos indiretos e subletais na avaliação de riscos de culturas geneticamente modificadas.
- Regular o movimento dos polinizadores manejados entre os países.
- Incentivar agricultores a utilizarem serviços ecossistêmicos, como polinização, ao invés de agroquímicos.
- Reconhecer a polinização como um insumo agrícola
- Apoiar sistemas agrícolas diversificados.
- Conservar e restaurar os habitats de polinizadores
- Monitorar polinizadores a longo prazo
- Financiar pesquisas para intensificar práticas de agricultura orgânica, diversificada e ecologicamente correta.
Fontes:
Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil” – Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES)
Barbosa, Marcela de Matos (2019) Influência da quantidade de habitat e heterogeneidade espacial na comunidade e o fluxo gênico de abelhas sem ferrão na Mata Atlântica. Tese de Doutorado (Entomologia), FFCLRP, Universidade de São Paulo. 91pp.